segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Fone Koss Porta Pro Falsificado - Parte 2

Por Bruno Mariani.


Em março de 2010, quando foi publicado o artigo "Fone KossPorta Pro Falsificado", não imaginava que o assunto fosse render tanto! É o post com o maior número de comentários no blog e o segundo mais acessado! Além disso, ao pesquisar no Google Brasil pelo termo "Koss Porta Pro", o artigo aparece na primeira página de resultados!

Passados três anos, o cenário permanece o mesmo: o Porta Pro ainda é o fone de ouvido mais popular entre os músicos - e também entre os falsificadores. Esse sucesso decorre basicamente da sua ótima relação custo/benefício, pois apesar de não estar no grupo dos melhores fones de ouvido do mercado, o Porta Pro foi eleito a melhor escolha na faixa de preços de $50, segundo o site headphone.com.

Ocorre que, com o tempo, os falsificadores ganharam experiência e aperfeiçoaram o processo de fabricação da réplica, de modo que hoje está bem mais difícil identificar visualmente a falsificação, como era proposto no primeiro artigo.

Nesta segunda parte, farei uma nova análise sobre o assunto, com informações atualizadas e uma abordagem mais técnica.


Porta Pro falsificado, o retorno!



Compre direto da Koss


Toda essa discussão sobre original e falso pode ser encerrada ao se efetuar a compra diretamente no site da Koss. Essa é a grande novidade em relação a 2010: eles agora enviam para o consumidor em qualquer lugar do mundo! Procedendo dessa forma, não haverá dúvida de que o fone é original.

Mas muita gente ainda não se sente à vontade em efetuar compras internacionais pela internet. Há o risco de fraude ou interceptação da transação financeira, a burocracia e os custos do processo de importação, a demora na entrega, dificuldades nos casos de devolução ou garantia, variação e conversão do dólar, além do idioma inglês.

Apesar disso tudo, penso que a única saída é comprar direto da Koss, pela garantia de que o fone será original. Já quem opta por comprar de qualquer outro fornecedor, no Brasil ou no exterior, acaba assumindo o risco de ser enganado.

Ocorre, porém, que comprar no site da Koss para entregar aqui no Brasil acaba saindo caro. Na simulação que fiz, o preço final com todos os custos de entrega e tributação totalizavam absurdos $328! Será que existe alguém disposto a pagar esse valor por um fone de cinquenta dólares? Creio que não, a menos que seja muito rico ou maluco!




Então é preciso buscar alternativas, como por exemplo, pedir para alguém trazer o fone do exterior. Hoje em dia, sempre há um familiar, amigo ou conhecido voltando de viagem dos EUA, ou mesmo aquelas pessoas que viajam para buscar encomendas e revender aqui no Brasil.

Basta comprar no site da Koss e mandar entregar no endereço onde a pessoa estará hospedada. Caso não seja possível trazer na bagagem, há ainda a opção de enviar o fone pelo serviço postal internacional. Em ambos os casos, dificilmente o custo final do Porta Pro original ultrapassaria os $100.




Comprando o falso


Para viabilizar os testes e medições que serão apresentados neste artigo, tive que fazer a aquisição de um Porta Pro genuinamente pirata, o que não foi difícil: bastou acessar aquele site onde tudo se compra e tudo se vende e adquirir um exemplar por R$69.

Como comentado no primeiro artigo, quando a conta não fecha, provavelmente se trata de um fone falso, já que é impossível vender um produto que custa cinquenta dólares nos Estados Unidos por menos de R$100 aqui no Brasil. Na verdade, veja abaixo qual é a origem dos Porta Pro vendidos na praça, e note a elevada margem de lucro que os piratões faturam com a revenda.


http://www.diytrade.com/china/pl/0-s-c-1/Search.html?qc=prd&qs=Porta+pro&ns=1



Teste das marcas de identificação


Primeiramente, ao receber o exemplar que comprei no Mercado Negro, fiquei surpreso com a embalagem, que era idêntica à original! Se estivesse na vitrine de uma loja de grife sendo vendido por R$300, duvido que alguém notaria! E esse é o maior perigo: a fidelidade da cópia da embalagem e do acabamento externo do fone. Veja nesta foto feita logo após retirá-lo do pacote.

Bonitinho, mas ordinário.

O que pude notar é que realmente as falsificações melhoraram bastante, pelo menos em relação ao aspecto físico externo. De todas aquelas marcas de identificação mencionadas no primeiro artigo, a única que consegui encontrar foi a má qualidade da impressão das letras e desenhos.

Perceba na imagem abaixo como o traço da impressão original (à esquerda) é mais preciso que a cópia (à direita). Isso fica evidente no acabamento do arco e demais detalhes no desenho do fone, ao centro. Além disso, a cor preta na impressão original é bem mais sólida que na falsa.



Original à esquerda e falsificado à direita.


Como se vê, as letras também apresentam problemas: no fone falso (à direita), o primeiro "p" de "porta Pro" e a letra "O" de "KOSS" ambas têm um traço mais fino que as demais; os "o" de "porta Pro" estão inclinados para a direita e o tipo da fonte de todo o texto não confere com o original.

E mais: no fone falso (foto de baixo), onde se lê "comfortZone", a base do "Z" está desalinhada em relação à base das outras letras, e o quadradinho azul está fora de simetria com seu vizinho prateado, o que não se observa no original (foto de cima). O tipo da fonte do texto também não confere.

Original acima e falsificado abaixo.


Enfim, essas foram as únicas evidências de falsificação que pude identificar a olho nu, o que mostra uma certa evolução no processo de fabricação e acabamento externo das réplicas, se comparado a 2010. É certo que, mesmo com essas falhas de impressão, fica difícil para um consumidor menos atento perceber detalhes desse tipo, ainda mais se não tiver em mãos um exemplar original para fazer a comparação lado a lado.



Teste do multímetro


Como apresentado no primeiro artigo, uma das maneiras de se identificar a falsificação do Porta Pro era por meio do teste com o multímetro, já que boa parte dos fones piratas tinham impedância de 30 ohms, valor bem inferior aos 60 ohms especificados pela Koss. Sendo assim, caso o valor medido fosse muito menor que sessenta, chegava-se à conclusão de que o fone era falso.

Desta vez, utilizando um multímetro profissional, obtive o valor de 57,4 ohms na medição de impedância do fone pirata (à direita), valor bem próximo do que se espera de um original!

Original à esquerda (61,5 ohms) / Falsificado à direita (57,4 ohms)


Ou seja, os falsificadores também evoluíram nesse quesito, de modo que o teste com o multímetro já não é mais tão eficaz para o propósito de se identificar uma réplica. Considerando que mesmo o fone verdadeiro pode apresentar variações em torno da impedância especificada, para mais ou para menos, o valor medido de 57,4 ohm representa uma diferença muito pequena que, por si só, não é suficiente para se chegar a conclusão alguma sobre a procedência do fone.



Teste de audição



Diante da dificuldade de se identificar um fone pirata pelos métodos de inspeção visual descritos anteriormente, resta analisar sua qualidade sonora.

O ouvido é a melhor ferramenta de quem trabalha com áudio e música. Logo, um profissional que tenha os ouvidos treinados, conseguirá perceber as diferenças entre o Porta Pro original e o falso, desde que ambos os fones estejam em mãos para efeito de comparação.

Caso se tenha a posse apenas do fone falso, sem a referência sonora do original, mesmo um técnico competente poderá se confundir, já que a sonoridade do fone falsificado não é necessariamente ruim.

No meu caso, ao escutar o mesmo programa musical em ambos os fones, pude perceber uma diferença na região dos graves, onde o Porta Pro original respondia melhor. Além disso, em volumes mais elevados, a presença de distorção era mais evidente no fone falso, que por vezes chegava a saturar.

Quem sabe ouvir não se deixa enganar!

Para mim, o teste de audição já é suficiente para encerrar o assunto, mas, por amor à ciência...



Testes de áudio


O objetivo aqui é fazer uma comparação sobre o comportamento dinâmico de cada um dos fones quando submetidos às mesmas condições de operação. Para tanto, foi montado um sistema composto por:

•  Gerador de sinais de áudio (iPad + Audio Tool)
•  Fone Koss Porta Pro (original e pirata)
•  Microfone Zoom H2
•  Adobe Audition CS5.5
•  Computador PC
•  Cabine de edição com isolamento acústico

O experimento consiste em reproduzir sinais de áudio em cada um dos fones, monitorar sua resposta através de um microfone de boa qualidade, e comparar os resultados a partir da análise dos gráficos gerados no Adobe Audition.

App Audio Tool --> iPad --> Porta Pro --> Mic Zoom H2 --> PC --> Adobe Audition.

Cumpre esclarecer que todas as fases do processo foram realizadas rigorosamente sob as mesmas condições para cada fone, em um ambiente silencioso e controlado, e que, embora este não seja o melhor sistema de avaliação de fones de ouvido que se tem notícia, já está mais do que bom para o propósito a que se destina neste artigo!



Resposta em frequência


Em resumo, a resposta em frequência é uma medida de como o fone se comporta ao reproduzir todas as frequências de áudio simultaneamente. O gráfico abaixo apresenta a resposta de cada fone quando submetidos à reprodução do ruído rosa, onde o fone original está representado pela curva verde e o falso pela curva vermelha.


(Clique na imagem para ampliar.)
Resposta em frequência do Porta Pro original (curva verde) e falso (curva vermelha).



A primeira observação a ser feita é que a curva obtida com o fone original neste experimento (verde) se assemelha à curva de resposta em frequência obtida pelo site innerfidelity.com, que utiliza um instrumental bem mais sofisticado que o meu. Isso me dá segurança para realizar os testes, pois mesmo modesto, meu laboratório improvisado pode ser considerado confiável para esta análise.

Partindo para a comparação entre os dois fones, observa-se que as curvas seguem praticamente o mesmo padrão no intervalo entre 20 e 2 kHz, que compreende toda a região dos graves e parte dos médios (parte esquerda do gráfico). Há, no entanto, uma redução de aproximadamente 3dB a partir de 200 Hz no fone pirata (vermelho), o que significa uma perda de volume nessa faixa de frequências. Isso explica a sensação de deficiência nos graves em relação ao original, mencionada no teste de audição.

Outro detalhe que chama atenção está na parte direita do gráfico, a partir de 2 kHz, onde as curvas seguem tendências relativamente distintas, com destaque para a depressão que se forma em 4 kHz no fone falso. Essa extremidade do gráfico compreende a região dos agudos, onde situam-se também grande parte dos harmônicos. Costuma-se dizer que esta é a região de maior riqueza e detalhamento do som, por isso merece uma análise mais cuidadosa.

O próximo gráfico apresenta a resposta dos fones quando submetidos a um sinal senoidal de frequência 2,2 kHz.

(Clique na imagem para ampliar.)
Resposta à senóide de 2,2 kHz.

Verifica-se que não há grandes problemas com a reprodução da parte fundamental da senóide, representada pelo pico mais elevado no gráfico. O que desperta atenção, na verdade, é o comportamento dos harmônicos.

Nota-se que o Porta Pro verdadeiro (curva verde) reproduz o som com maior riqueza de detalhes, em razão da presença marcante do primeiro harmônico em 4,4 kHz e do segundo harmônico, próximo a 7 kHz. O mesmo não se observa na curva vermelha do fone falso, onde a amplitude do primeiro harmônico é pouco relevante e o segundo harmônico nem existe.

Na prática, essa deficiência de harmônicos do fone falso se traduz num som de menor definição, quando comparado ao original, o que também ocorre em outros pontos importantes do espectro de frequências.

A quem interessar, seguem os links onde estão disponíveis os arquivos de áudio resultado desta análise.
Resposta em frequência do Porta Pro falso
Resposta em frequência do Porta Pro original
Resposta à senóide 2,2 kHz do Porta Pro falso
Resposta à senóide 2,2 kHz do Porta Pro original


Conclusões


A conclusão a que chego é que, por mais que as falsificações tenham melhorado, o Porta Pro original ainda é superior ao falsificado, como era de se esperar.

Mas há de se reconhecer que a diferença não é tão evidente assim, e que os falsificadores, de certa forma, estão fazendo um "bom trabalho"! É uma falsificação competente que passa despercebida por um ouvinte menos atento e pode até enganar um mais experiente.

Desse modo, arrisco dizer que o modelo falsificado deve atender às necessidades do ouvinte menos exigente, que em geral utiliza o fone para ouvir música em segundo plano, como numa caminhada, no trabalho, na academia, no transporte público, etc.

Já os que possuem uma audição mais crítica, ou os que atuam profissionalmente no ramo do áudio e música, podem se decepcionar com a sonoridade do fone falso, principalmente em volumes mais elevados, onde a presença de distorção é notória. Neste caso, vale à pena pagar o preço do original.

Enfim, vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos! Enquanto isso, a turma segue usando o Porta Pro, seja lá qual for sua verdadeira origem!

Programa Encontro com Fátima Bernardes, Rede Globo, 24/01/2013.



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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Audiossustentável

Por Bruno Mariani.

Hoje, 21 de setembro, é o Dia da Árvore, que marca o início da primavera! Isso me faz lembrar que o primeiro semestre deste ano ficou marcado pela realização da Rio +20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, cujo tema central foi a proposição de mudanças no modo como estão sendo usados os recursos naturais do planeta.

A natureza é a origem de todo som!


A propósito, a única referência a áudio na Rio +20 foi no edital de licitação para contratação de sonorização meio ambiente para o evento. Mas isso não significa que os profissionais de áudio e música não estão preocupados com a natureza, pelo contrário, o mercado de instrumentos musicais e equipamentos de som já desenvolveu diversos produtos baseados na filosofia do desenvolvimento sustentável.


Violões e Guitarras


Boa música exige boa madeira! Sabendo disso, os fabricantes de violões e guitarras utilizam madeiras nobres e raras extraídas de árvores com 250 anos de idade, em virtude das características estéticas e tonais exigidas para se construir bons instrumentos!

Embora a indústria da música não seja a grande responsável pela devastação das florestas, os fabricantes estão preocupados, já que a sustentabilidade da madeira é fundamental para a viabilidade a longo prazo da indústria de instrumentos de cordas.

Pensando nisso, foi fundada a coalizão MusicWood, formada pelo Greenpeace, Fender, Gibson, Martin, Taylor e Yamaha, com o objetivo de proteger as florestas ameaçadas e garantir a preservação das espécies mais importantes para a fabricação de instrumentos musicais. Em breve será lançado um documentário sobre o tema.

Tal preocupação inspirou a fabricação de guitarras e violões ecologicamente corretos, fabricados a partir de materiais alternativos e recicláveis. É o caso, por exemplo, das guitarras Cyclotron, cujo corpo é 100% construído com materiais encontrados no lixo, como copos descartáveis, garrafas PET e potes de iogurte. Destacam-se também as iniciativas de fabricação de guitarras e baixos que utilizam compostos sintéticos (Flaxwood Guitars), materiais orgânicos (Mada Guitars) e madeiras de reflorestamento (Zero Impact Guitars).

Tecnologia brasileira na fabricação de "guitarras verdes".

O Brasil também contribui nesse sentido, com destaque para a linha de guitarras Echo Music, que utiliza um processo de produção totalmente focado na sustentabilidade. Madeira, ferragens, captadores, cordas, pintura, palhetas, tudo "pensado e planejado pelo viés ecológico".



Bateria e Percussão


Por ser um dos instrumentos musicais que mais depende da madeira como matéria-prima, a bateria é um excelente candidato para um redesenho ecológico. Assim, dada a reduzida disponibilidade de madeiras nobres na natureza, a DW Drums desenvolveu a linha de baterias acústicas ECO-X, fabricadas predominantemente com bambu. Bonito, leve, resistente e renovável, o bambu é visto como grande alternativa à madeira e promessa para o desenvolvimento sustentável.

www.dwdrums.com/drums/ecox

Outros instrumentos percussivos também se adaptam bem à essa filosofia do "som sustentável", como demonstrado pelos grupos StompUdigrudi e GEM, que exploram com maestria a sonoridade e a musicalidade de instrumentos de percussão criados a partir de materiais recicláveis e reutilizáveis.

GEM - Música e Sustentabilidade



Piano e Teclado


Uma das grandes polêmicas ambientais na história da música foi a utilização do marfim como matéria prima para a fabricação das teclas de piano. A partir do momento em que espécies de elefantes foram ameaçadas de extinção, a forte pressão da sociedade e dos ambientalistas fez com que a indústria de pianos acústicos buscasse outras alternativas. Hoje as teclas são fabricadas basicamente de madeira e plástico.

Ocorre que esses materiais não proporcionam a mesma sensação tátil oferecida pelo marfim, o que levou a Yamaha a desenvolver um material sintético chamado "Ivorite", que se aproxima bastante da aparência e da textura do marfim. O termo "Ivorite" vem de "Ivory", que é a tradução para marfim. Essa tecnologia está disponível nos pianos de elite da Yamaha, tanto nos acústicos quanto nos digitais.



Com relação aos teclados e sintetizadores, sua maior contribuição para o desenvolvimento sustentável é a constante redução no consumo de energia elétrica. Para efeito de comparação, o Yamaha DX7, lançado em 1984, consumia 40W de potência. Já o Motif XF, o top de linha da Yamaha atualmente, consome apenas 30W. Ou seja, 25% menos energia para um poder de processamento e memória infinitamente maior!

Além disso, os teclados atuais possuem a função de desligamento automático, o que evita o consumo desnecessário de energia quando o usuário esquece de desligar o instrumento. Outra melhoria é a redução no peso, refletindo o uso mais racional de metais e plásticos na fabricação dos equipamentos.



Áudio Profissional


Enquanto os instrumentos musicais abraçaram de vez a causa da sustentabilidade, a indústria de áudio profissional ainda se mostra bastante tímida nesse sentido. Por ser um mercado menor e mais restrito, se comparado ao de instrumentos musicais, o custo de se desenvolver equipamentos de áudio sustentáveis não deve ser interessante para os grandes fabricantes, do ponto de vista financeiro e institucional. Mais um daqueles casos em que o interesse econômico capitalista fala mais alto que questões ambientais...

Apesar disso, existem iniciativas num segmento de mercado alternativo onde se identificam equipamentos de áudio profissional preocupados com o impacto ambiental e a sustentabilidade. É o caso, por exemplo, do microfone ecológico Amazon EcoMic, desenvolvido no Brasil pela Alo Som da Amazônia e vencedor do Prêmio FINEP de Inovação 2009. O corpo do microfone é fabricado com resíduos de madeira que não tem valor comercial e que seriam destinados à queima ou aos lixões da cidade de Manaus. Outras partes do acabamento são feitas com o anel de vedação de garrafas PET e por caroço de tucumã seco.



Já na Itália, destacam-se os amplificadores de potência da linha Green Audio Power, fabricados pela Powersoft, que operam com baixo consumo de energia mesmo em elevadas potências. Seu funcionamento consiste basicamente no uso de uma tecnologia que permite a transformação de toda a corrente elétrica de entrada em energia útil, e na reutilização da energia reativa devolvida pelos auto-falantes. Além disso, os amplificadores requerem menos refrigeração, pois aquecem pouco e são menores e mais leves.

Segundo cálculos apresentados pelo fabricante, caso esses amplificadores fossem utilizados num show de música com seis horas de duração, seriam economizados 432 kWh de energia elétrica e a emissão de CO2 seria reduzida em 13.000 tons, em relação a um sistema de amplificação de áudio tradicional.

Amplificador "verde".


Não poderia deixar de mencionar a obra Sun Boxes de Craig Colorusso, que consiste numa instalação de 20 caixas de som alimentadas exclusivamente por energia solar, através de painéis solares independentes, sem o uso de baterias ou qualquer outra fonte elétrica! Trata-se de uma exposição de arte, não de um produto comercial, mas mostra que é possível desenvolver caixas de som baseadas num modelo sustentável. O documentário INSTALL mostra mais detalhes da operação das caixas.

Uma pena não funcionarem à noite!



Áudio Consumidor


No mercado consumidor, são vários os produtos de áudio desenvolvidos com a temática da preservação do meio ambiente. Caixa de som, rádio, camiseta, toca-discos, fone de ouvido e outros... Os mais interessantes, na minha opinião, são a Sound Charge, camiseta que transforma som em energia elétrica para recarregar o celular, e a iBamboo, caixa acústica de bambu tipo dock para iPhone. Selecionei alguns exemplos abaixo, mas existem vários outros mundo afora.


Caixa acústica e dock iBamboo.



Camiseta Sound Charge.


Cardboard: rádio de papelão reciclado.


Toca-discos Sennheiser Eco-Vinyl Turntable.


Fone Noisezero O+ Eco: aço e ferro reciclados e bio-plásticos de amido de milho. 


Rukus Solar: caixa de som amplificada a energia solar.


É isso! Vida longa a todas as árvores para que tenhamos bons instrumentos e boa música por várias gerações!


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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Gírias do Som

Por Bruno Mariani.



      "- Posso ligar meu teclado pra passar o som?
      - Claro, conecte seu cabo nessa medusa aí do lado.
      - Falta peso! Pode abrir mais o retorno?
      - Não dá... vai ficar sobrando e gerar microfonia.
      - Então pede pro roadie trazer o in ear pra mim."



Na profissão de técnico de som, a quantidade de termos técnicos é tão grande que foi possível reuni-los em um dicionário. Mas nem isso foi suficiente para cobrir toda a gama de palavras utilizadas pelos profissionais do áudio. Isso porque boa parte dos diálogos cotidianos se baseiam em expressões de linguagem carregadas de subjetividade: as gírias!



Painel multicabos, vulgo medusa!


De fato, as palavras mais utilizadas no contexto do áudio e da música formam um vocabulário repleto de jargões que se traduzem numa linguagem totalmente nova, facilitando a comunicação entre os profissionais e gerando uma identidade própria às diversas tribos do universo sonoro e musical. Porém, pra quem não é do ramo, fica difícil compreender esse dialeto! O entendimento do significado dessas gírias e expressões exige alguma especulação filosófica.Vejamos...


Som Aveludado


Em áudio não há nada mais nobre que um som aveludado. É a característica conferida a uma sonoridade suprema, equilibrada, consistente, macia. Apesar da tentativa, as palavras não são suficientes para descrevê-lo. Como nas descrições de vinhos e cafés gourmets, a melhor maneira de entendê-las é experimentando!

Assim, minhas melhores referências de som aveludado são a voz de Norah Jones, o violão de João Gilberto e a voz do ex-mendigo Ted Williams.

Ted Williams: exemplo de voz aveludada.


Pode parecer delírio associar veludo, aquele tecido fofinho, a qualquer tipo de sonoridade. E é! Na verdade, o mais próximo que veludo pode chegar do som é no revestimento interior dos cases de instrumentos musicais! Mas apesar da subjetividade que carrega, a expressão é frequentemente usada por profissionais do áudio e da música. Basta citar Sólon do Valle, guru do áudio no Brasil, em sua obra "Microfones":

"Este grupo de instrumentos de sopro: flauta, piccolo, clarinete, oboé, fagote, corne inglês, clarone, etc, se caracteriza pelo som suave, tendendo para o aveludado."
" (...) Este tipo de microfone, de grande tamanho, foi celebrizado nos modelos 44-BX e 77-DX da RCA, usados em grande escala na era do rádio (anos 40 e 50) pela sua qualidade de som "aveludada" e baixa distorção."
Sólon do Valle.


Microfone Duro e Microfone Macio


E por falar em microfones, outra gíria bastante usual é a de se definir um microfone como "duro" ou "macio".

"Microfone macio é aquele fofinho na ponta, tipo almofadinha!"

Nada a ver, não viaja!


Um microfone é chamado de macio quando possui elevada sensibilidade de captação. Tal sensibilidade permite que mesmo os sons mais suaves, de pequeníssima intensidade, sejam captados com precisão pelo microfone, conferindo um alto grau de detalhamento ao registro sonoro. Por isso são os preferidos dos estúdios de gravação.

Por outro lado, essa elevada sensibilidade acaba por restringir sua aplicação em determinadas ocasiões, como no caso de um show a céu aberto, onde os ruídos do vento e da vibração do palco seriam todos captados, o que prejudicaria a qualidade final do som.

Os microfones condensadores (ou capacitivos) são os que melhor se enquadram no grupo dos macios, sendo eventualmente aparelhados com acessórios como "pop filterse "aranhas" para minimizar os ruídos indesejáveis do vento/sopro e das vibrações.


Microfone "macio" com "aranha" e "pop filter".
Ideal para captação de voz "aveludada".


Já um microfone "duro" se caracteriza pela sua robustez e direcionalidade. É o microfone mais comum, utilizado no dia a dia dos palcos e ensaios. Suporta altas pressões sonoras e é imune a ruídos de manuseio, mas não é capaz de captar sons de baixa intensidade. Por ser bastante direcional, consegue rejeitar sons e ruídos alheios à fonte sonora principal.

Shure SM58: esse aguenta porrada!



O uso dessa expressão é tão comum no meio técnico que chegou a ser cobrado em prova de concurso público. Foi no processo seletivo realizado em 2010 para o cargo de Operador de Cine, Foto e Som da Câmara Municipal de Passo Fundo - RS. Pedia-se para assinalar a alternativa incorreta:

Entende-se por microfone "duro":
(a) Resistente ao uso.
(b) Responde a baixas pressões sonoras.
(c) Extremamente direcional.
(d) Imune a ruídos de manuseio.
(e) Que suporta altíssimas pressões sonoras.


Salas


Em áudio, uma sala é qualquer ambiente fechado onde haja reprodução sonora. O curioso é que, para os profissionais, as salas são seres animados dotados de vida própria! Uma sala pode falar, vibrar, sentir, brilhar, viver, morrer, engordar, emagrecer, entre outras coisas! Mais um pouco e veríamos salas andando por aí!

Veja este trecho extraído do livro "Manual Prático de Acústica", de autoria do Professor Sólon do Valle:

"Uma sala cujo RT60 suba muito mais de 50% nos graves será "retumbante" ou "cavernosa". Se o tempo não subir nos graves, a sala soará "magra". Por outro lado, se não houver queda suficiente do RT60 nos agudos, a sala ficará "brilhante" demais ou "áspera"; e se a queda nas altas frequências for excessiva, teremos uma sala "abafada" ou "escura"."
Sólon do Valle.


Ou seja, a sala muda de personalidade conforme o som se comporta lá dentro! Esses conceitos, ou melhor, gírias associadas à sonoridade de uma sala são de difícil compreensão, pois apresentam um caráter altamente subjetivo. Note que o autor lança esses termos de maneira muito natural, sem se preocupar em definí-los, partindo do princípio de que é uma linguagem conhecida pelos profissionais de áudio.

Enfim, por mais abstrato que seja, me arrisco a explicar tecnicamente o significado de alguns desses termos:

Sala morta - ambiente cujos materiais de revestimento das superfícies (paredes, chão, teto) apresentam alto índice de absorção acústica, o que minimiza as reflexões do som e confere à sala uma sonoridade de pouca ou nenhuma reverberação.
Sala morta!

Sala viva - ambiente que se caracteriza pelo baixo índice de absorção acústica, de modo que a maior parte do som é refletida pelas superfícies da sala.
Sala viva.
Fonte: http://www.byknirsch.com.br/artigos-06-01-salaviva2.shtml

Sala brilhante ou áspera - onde predominam as altas frequências, ou seja, ouve-se agudos em excesso.
Sala abafada ou escura - ausência de médios e agudos, pouca definição.
Sala retumbante ou cavernosa - onde predominam as baixas frequências, com excesso de graves, grande amplitude e profundidade. 
Sala magra - deficiente nos graves, tipo "carro da pamonha"!



Enfim, a lista de gírias do áudio e da música é imensa e não caberia ficar aqui divagando sobre todas elas! Então convido o leitor a complementar este artigo deixando registrado nos comentários as gírias mais usadas no seu dia a dia de músico ou técnico. Vou ficando por aqui, pois o "batera" está lá no "aquário" esperando uma "cama" em Fá menor pra poder gravar o "take".


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