Em março de 2010, quando foi publicado o artigo "Fone KossPorta Pro Falsificado", não imaginava que o assunto
fosse render tanto! É o post com o maior número de comentários no blog e o segundo mais
acessado! Além disso, ao pesquisar no
Google Brasil pelo termo "Koss Porta Pro", o artigo aparece na
primeira página de resultados!
Passados
três anos, o cenário permanece o mesmo: o Porta Pro ainda é o fone de ouvido mais popular entre os músicos - e também entre os falsificadores.
Esse sucesso decorre basicamente da sua ótima relação custo/benefício, pois apesar de não estar no grupo dos melhores fones de ouvido do mercado, o
Porta Pro foi eleito a melhor escolha na faixa de preços de $50, segundo o site headphone.com.
Ocorre
que, com o tempo, os falsificadores ganharam experiência e aperfeiçoaram o processo de fabricação da réplica, de modo que hoje está bem mais difícil identificar visualmente a
falsificação, como era proposto no
primeiro artigo.
Porta Pro falsificado, o retorno! |
Compre direto da Koss
Toda essa
discussão sobre original e falso pode
ser encerrada ao se efetuar a compra diretamente no site da Koss. Essa é a grande novidade em relação
a 2010: eles agora enviam para o consumidor em qualquer lugar do mundo!
Procedendo dessa forma, não haverá dúvida de que o fone é original.
Mas muita
gente ainda não se sente à vontade em efetuar compras internacionais pela internet. Há o risco de fraude ou interceptação da transação financeira, a burocracia e
os custos do processo de importação, a demora na entrega,
dificuldades nos casos de devolução ou garantia, variação e conversão do dólar, além do idioma inglês.
Apesar disso tudo, penso que a única saída é comprar direto da Koss, pela garantia de que o fone será original. Já quem opta por comprar de
qualquer outro fornecedor, no Brasil ou no exterior, acaba assumindo o risco de
ser enganado.
Ocorre, porém, que comprar no site da Koss
para entregar aqui no Brasil acaba saindo caro. Na simulação que fiz, o preço final com todos os custos de
entrega e tributação totalizavam absurdos $328!
Será que existe alguém disposto a pagar esse valor por um fone de cinquenta dólares? Creio que não, a menos que seja muito rico
ou maluco!
Então é preciso buscar alternativas, como por exemplo, pedir para
alguém trazer o fone do exterior.
Hoje em dia, sempre há um familiar, amigo ou
conhecido voltando de viagem dos EUA, ou mesmo aquelas pessoas que viajam para
buscar encomendas e revender aqui no Brasil.
Comprando o falso
Para viabilizar os testes e medições que serão apresentados neste artigo,
tive que fazer a aquisição de um Porta Pro genuinamente
pirata, o que não foi difícil: bastou acessar aquele site onde tudo se compra e tudo
se vende e adquirir um exemplar por R$69.
Como comentado no primeiro artigo, quando a conta não fecha, provavelmente se trata de um fone falso, já que é impossível vender um produto que custa cinquenta dólares nos Estados Unidos por menos de R$100 aqui no Brasil.
Na verdade, veja abaixo qual é a origem dos Porta Pro
vendidos na praça, e note a elevada margem de
lucro que os piratões faturam com a revenda.
http://www.diytrade.com/china/pl/0-s-c-1/Search.html?qc=prd&qs=Porta+pro&ns=1 |
Teste das marcas de identificação
Bonitinho, mas ordinário. |
Perceba na imagem abaixo como o traço da impressão original (à esquerda) é mais preciso que a cópia (à direita). Isso fica evidente no acabamento do arco e demais detalhes no desenho do fone, ao centro. Além disso, a cor preta na impressão original é bem mais sólida que na falsa.
Original à esquerda e falsificado à direita. |
Como se vê, as letras também apresentam problemas: no fone falso (à direita), o primeiro
"p" de "porta Pro" e a letra "O" de
"KOSS" ambas têm um traço mais fino que as demais; os "o" de "porta
Pro" estão inclinados para a direita e
o tipo da fonte de todo o texto não confere com o original.
E mais: no fone falso (foto de baixo), onde se lê "comfortZone", a base do "Z" está desalinhada em relação à base das outras letras, e o quadradinho azul está fora de simetria com seu vizinho prateado, o que não se observa no original (foto de cima). O tipo da fonte do
texto também não confere.
Original acima e falsificado abaixo. |
Enfim, essas foram as únicas
evidências
de falsificação
que pude identificar a olho nu, o que mostra uma certa evolução
no processo de fabricação e acabamento externo das réplicas,
se comparado a 2010. É certo que, mesmo com essas falhas de impressão,
fica difícil
para um consumidor menos atento perceber detalhes desse tipo, ainda mais se não
tiver em mãos
um exemplar original para fazer a comparação
lado a lado.
Teste do multímetro
Como apresentado no primeiro artigo, uma das maneiras de se
identificar a falsificação do Porta Pro era por meio do
teste com o multímetro, já que boa parte dos fones piratas tinham impedância de 30 ohms, valor bem inferior aos 60 ohms
especificados pela Koss. Sendo assim, caso o valor medido fosse muito menor que
sessenta, chegava-se à conclusão de que o fone era falso.
Desta vez, utilizando um multímetro profissional, obtive o valor de 57,4
ohms na medição de impedância do fone pirata (à direita), valor bem próximo do que se espera de um original!
Original à esquerda (61,5 ohms) / Falsificado à direita (57,4 ohms) |
Ou seja, os falsificadores também evoluíram nesse quesito, de modo que o teste com o multímetro já não é mais tão eficaz para o propósito de se identificar uma réplica. Considerando que mesmo o fone verdadeiro pode apresentar
variações em torno da impedância especificada, para mais ou para menos, o valor medido
de 57,4 ohm representa uma diferença muito pequena que, por si só, não é suficiente para se chegar a conclusão alguma sobre a procedência
do fone.
Teste de audição
Diante da dificuldade de se identificar um fone pirata
pelos métodos de inspeção visual descritos anteriormente, resta analisar sua
qualidade sonora.
O ouvido é a melhor ferramenta de quem
trabalha com áudio e música. Logo, um profissional que tenha os ouvidos treinados, conseguirá perceber as diferenças entre o Porta Pro original e o falso, desde que ambos os
fones estejam em mãos para efeito de comparação.
Caso se tenha a posse apenas do fone falso, sem a referência sonora do original, mesmo um técnico competente poderá se confundir, já que a sonoridade do fone falsificado não é necessariamente ruim.
No meu caso, ao escutar o mesmo programa musical em ambos
os fones, pude perceber uma diferença na região dos graves, onde o Porta Pro original
respondia melhor. Além disso, em volumes mais
elevados, a presença de distorção era mais evidente no fone falso,
que por vezes chegava a saturar.
Quem sabe ouvir não se deixa enganar! |
Para mim, o teste de audição já é
suficiente para encerrar o assunto, mas, por amor à ciência...
Testes de áudio
•
Gerador
de sinais de áudio (iPad + Audio Tool)
•
Fone
Koss Porta Pro (original e pirata)
•
Microfone
Zoom H2
•
Adobe Audition CS5.5
•
Computador
PC
•
Cabine
de edição com isolamento acústico
O experimento consiste em reproduzir sinais de áudio em cada um dos fones, monitorar sua resposta através de um microfone de boa qualidade, e comparar os resultados a partir da análise dos gráficos gerados no Adobe Audition.
App Audio Tool --> iPad --> Porta Pro --> Mic Zoom H2 --> PC --> Adobe Audition. |
Cumpre
esclarecer que todas as fases do processo foram realizadas rigorosamente sob as
mesmas condições para cada fone, em um
ambiente silencioso e controlado, e que, embora este não seja o melhor sistema de
avaliação de fones de ouvido que se
tem notícia, já está mais do que bom para o
propósito a que se destina neste
artigo!
Resposta em frequência
Em resumo, a resposta em frequência é uma medida de como o fone se comporta ao reproduzir todas as frequências de áudio simultaneamente. O gráfico abaixo apresenta a resposta de cada fone quando submetidos à reprodução do ruído rosa, onde o fone original está representado pela curva verde e o falso pela curva vermelha.
(Clique na imagem para ampliar.)
Resposta em frequência do Porta Pro original (curva verde) e falso (curva vermelha). |
A
primeira observação a ser feita é que a curva obtida com o fone original neste experimento
(verde) se assemelha à curva de resposta em frequência obtida pelo site innerfidelity.com, que utiliza um instrumental bem mais sofisticado que o meu. Isso me dá segurança para realizar os testes, pois mesmo modesto, meu laboratório improvisado pode ser considerado confiável para esta análise.
Partindo
para a comparação entre os dois fones,
observa-se que as curvas seguem praticamente o mesmo padrão no intervalo entre 20 e 2 kHz, que compreende toda a região dos graves e parte dos médios
(parte esquerda do gráfico). Há, no entanto, uma redução de aproximadamente 3dB a partir de 200 Hz no
fone pirata (vermelho), o que significa uma perda de volume
nessa faixa de frequências. Isso explica a sensação de deficiência nos graves em relação ao original, mencionada no teste de audição.
Outro
detalhe que chama atenção está na parte direita do gráfico, a partir de 2 kHz, onde as curvas seguem tendências relativamente distintas, com destaque para a depressão que se forma em 4 kHz no fone falso. Essa
extremidade do gráfico compreende a região dos agudos, onde situam-se também grande parte dos harmônicos.
Costuma-se dizer que esta é a região de maior riqueza e detalhamento do som, por isso merece
uma análise mais cuidadosa.
O
próximo gráfico apresenta a resposta
dos fones quando submetidos a um sinal senoidal de frequência 2,2 kHz.
(Clique na imagem para ampliar.)
Resposta à senóide de 2,2 kHz. |
Verifica-se
que não há grandes problemas com a reprodução da parte fundamental da senóide, representada pelo pico mais elevado no gráfico. O que desperta atenção, na verdade, é o comportamento dos harmônicos.
Nota-se
que o Porta Pro verdadeiro (curva verde) reproduz o som com maior riqueza de
detalhes, em razão da presença marcante do primeiro harmônico
em 4,4 kHz e do segundo harmônico, próximo a 7 kHz. O
mesmo não se observa na curva vermelha
do fone falso, onde a amplitude do primeiro harmônico
é pouco relevante e o segundo
harmônico nem existe.
A quem interessar, seguem os links onde estão disponíveis os arquivos de áudio resultado desta análise.
Resposta em frequência do Porta Pro falso
Resposta em frequência do Porta Pro original
Resposta à senóide 2,2 kHz do Porta Pro falso
Resposta à senóide 2,2 kHz do Porta Pro original
Conclusões
A
conclusão a que chego é que, por mais que as falsificações tenham melhorado, o Porta Pro original ainda é superior ao falsificado, como era de se esperar.
Mas
há de se reconhecer que a
diferença não é tão evidente assim, e que os falsificadores, de certa forma,
estão fazendo um "bom
trabalho"! É uma falsificação competente que passa despercebida por um ouvinte menos
atento e pode até enganar um mais experiente.
Desse
modo, arrisco dizer que o modelo falsificado deve atender às necessidades do ouvinte menos exigente, que em geral
utiliza o fone para ouvir música em segundo plano, como
numa caminhada, no trabalho, na academia, no transporte público, etc.
Já os que possuem uma audição
mais crítica, ou os que atuam
profissionalmente no ramo do áudio e música, podem se decepcionar com a sonoridade do fone falso,
principalmente em volumes mais
elevados, onde a presença de distorção é notória. Neste caso, vale à pena pagar o preço do original.
Enfim,
vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos! Enquanto isso, a turma segue usando o Porta Pro,
seja lá qual for sua verdadeira
origem!
Programa Encontro com Fátima Bernardes, Rede Globo, 24/01/2013. |
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